'Desaparecidos': universidade lança jogo com temática sobre ditadura militar brasileira; saiba onde jogar
12/04/2025
(Foto: Reprodução) Game desenvolvido pela UFRGS convida o jogador a investigar um presídio político em uma ilha fictícia, confrontando a memória da ditadura com dilemas éticos, pistas perdidas e múltiplas escolhas. Jogo "Desaparecidos"
Divulgação/ Laboratório de Artefatos Digitais
Uma ilha isolada, um incêndio misterioso, prisioneiros políticos desaparecidos e uma jovem jornalista em busca de respostas. Esses são os elementos que envolvem Desaparecidos, jogo narrativo criado pelo Laboratório de Artefatos Digitais (LAD), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Em uma experiência interativa que mergulha o jogador nas lacunas da memória da ditadura militar no Brasil, o jogo foi lançado na semana que marcou os 61 anos do golpe.
“É um jogo que a gente escolheu basear em relatos reais, ter alguma fidedignidade histórica para que o jogo cumprisse essa função” , explica a professora Suely Dadalti Fragoso, que coordena o projeto.
A protagonista é uma repórter que viaja até uma ilha fictícia, inspirada na Ilha das Pedras Brancas em Porto Alegre, para investigar o fechamento de um presídio político. Conforme coleta pistas e toma decisões, o jogador é levado por caminhos distintos. Inclusive, há oito possíveis finais, todos diretamente influenciados pelas escolhas do jogador feitas ao longo da jornada.
O jogo está disponível para Windows, com versão Linux sendo preparada e procurando candidatos para testar.
“A gente fez muitos playtests (testes durante o desenvolvimento do jogo), mas até hoje ninguém matou totalmente 100% a charada no primeiro jogo", relatou a professora.
Jogo "Desaparecidos"
Divulgação/ Laboratório de Artefatos Digitais
De acordo com Suely, em alguns momentos Desaparecidos desafia o jogador com dilemas éticos e morais a partir de decisões tomadas, mas que nem sempre trazem respostas claras.
“Isso cai bem para temas históricos, porque aproxima a pessoa daquele contexto, daquela situação. É diferente você ver no cinema e pensar o que a pessoa fez, e você ter que fazer”, diz a professora, referenciando o filme "Ainda Estou Aqui".
O jogo, que demorou quatro anos para ficar pronto, foi lançado no mesmo ano do filme de Walter Salles, que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. A obra cinematográfica também retrata a época da ditadura, contando a história do pai de uma família que desapareceu e foi morto pelo regime.
A equipe do Laboratório de Artefatos Digitais fez questão de abordar, no jogo, as ausências e lacunas deixadas pela ditadura. Histórias incompletas e perdidas foram elementos centrais da construção narrativa.
Para garantir a fidedignidade histórica sem perder o caráter ficcional, Suely contou com a consultoria de uma pesquisadora doutora em História que revisou toda a narrativa e forneceu fontes como o relatório da Comissão da Verdade e obras e documentos que retratam a ditadura.
Há também toques pessoais escondidos na produção. Um easter egg, por exemplo, guarda um pedaço da própria história de Suely, que viveu a infância e adolescência durante o regime militar.
(👀 Easter egg é uma expressão em inglês para identificar detalhes sutis escondidos e que costumam passar despercebidos em produções. É bem comum em filmes e séries.)
“Tenho 62 anos, eu nasci durante a ditadura. Todo o meu tempo de escola foi feito durante a ditadura militar. Então, eu tenho algumas coisas da minha vida que são coisas não respondidas também. E que eu coloquei no jogo”, comenta.
Jogo "Desaparecidos"
Divulgação/ Laboratório de Artefatos Digitais
Desaparecidos nasceu como uma história experimental no Twine (ferramenta de ficção interativa), e evoluiu ao longo de quatro anos para uma versão imersiva feita na Unity.
Jogo sobre enchente
Os planos são de ampliar a divulgação do Desaparecidos nas próximas semanas, com atualização do jogo e mais presença nas redes sociais. O jogo está disponível gratuitamente na plataforma Itch.io, e há planos para hospedá-lo também no site da universidade.
E o LAD já está de olho na próxima produção: um jogo sobre os desastres climáticos no Rio Grande do Sul em 2024. Suely acredita que o tema seguirá sendo uma pauta importante quando o jogo estiver pronto, com uma estimativa de quatro anos.
“Infelizmente, o tema vai continuar sendo relevante” , diz.
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